Desemprego de Estrangeiro no Brasil – I

Como todos os que acompanham o blog sabem, a tarefa de conseguir o primeiro emprego no Brasil para meu marido estrangeiro foi extremamente árdua por inúmeros motivos, mas felizmente conseguimos e não temos dúvida que a intensa jornada valeu cada segundo. Se você é novo por aqui, ou não lembra como foi isso, recapitulo para vocês: levamos quase dois anos para conseguir emprego para ele, enviamos mais de dois mil currículos, recebemos mais de 40 telefonemas e ele fez 24 entrevistas pessoalmente. Ao fim de todo o processo, ele conseguiu duas ofertas de emprego. A escolha foi embasada na estabilidade do setor em que ele trabalharia. Contei tudo em detalhes no post “Como Conseguir Emprego para Estrangeiro no Brasil – Relato de Sucesso“.

Pois bem, nossa felicidade durou até o dia em que soubemos que a planta em que ele trabalhava encerraria suas atividades, o que aconteceu apenas dois anos e meio depois que ele foi contratado. Não sabíamos disso, mas o fechamento da fábrica já estava previsto desde a época em que ele começou a trabalhar na empresa. Diante do fechamento iminente, havia duas possibilidades, ser realocado em outras plantas ou ser mandado embora. Ele foi mandado embora.

Foi um choque para mim quando soube. Lembrei de todo o sacrifício que foi para arranjar aquele emprego, todo o esforço que, de repente, não mais que de repente, virou em nada. E a crise econômica? E o desemprego galopante? E o tanto de gente sendo expelida diariamente do mercado de trabalho? E a falta de oportunidades? E o fato de ele ser estrangeiro? E agora?

Eu não queria começar tudo de novo, então chorei, fiquei angustiada, chorei de novo, e o aperto no peito não passava. Enfim, sobrevivemos e nos resignamos. Outros planos teriam de ser traçados e foi o que fizemos. Aos poucos comecei a me organizar para começar a procura por um emprego novo tudo novamente, enquanto ele começou a estudar para um teste internacional com o objetivo de tentar uma bolsa de MBA no exterior. Essa parte não me agradou muito, porque não tinha e continuo não tendo vontade nenhuma de viver no exterior novamente, mas não o impedi nem o atrapalhei em seus objetivos.

Em relação à parte burocrática da demissão, não só para ele, mas também para mim, foi tudo novidade, pois nunca fui demitida na vida. É chato correr atrás da papelada, mas não tem segredo e nem dificuldade, o processo todo é muito intuitivo e igual tanto para brasileiros quanto para estrangeiros, nada diferente, nada especial. Eles têm garantidos todos os direitos trabalhistas como se brasileiros fossem. Sacamos o FGTS e mais ou menos 2 meses depois demos entrada no seguro desemprego, cuja cota máxima ele recebeu por 5 meses.

No começo, ele estava até que animado com o desemprego, ou talvez fosse só fachada, não sei. Ele planejou estudar, malhar, levar uma vida mais saudável e menos estressada enquanto definiríamos os novos planos. O trabalho que ele desempenhava era muito estressante, de muita pressão, então a demissão, no fim das contas, não foi de todo ruim. Mas como era de se esperar, passada a empolgação inicial e caindo na rotina novamente, agora em casa, logo tudo ficou meio nebuloso, especialmente diante das péssimas notícias em relação ao futuro do Brasil. Ele ficou ainda mais estressado, irritado, passou a pegar mais em meu pé, a ser menos compreensivo e também passou a desejar retornar ao seu país de origem. Definitivamente não foi um período legal. Acredito que todos aqueles que já passaram por isso, estrangeiros ou não, sabem bem do que estou falando. A falta de perspectiva, aliada a um futuro incerto, não é uma boa combinação.

Com o desemprego oficializado, dei início aos trabalhos de procura por um novo emprego já no dia seguinte, mas com o coração na mão, porque eu realmente não estava confiante de que um estrangeiro desempregado no Brasil teria vez em um mercado de trabalho em grave recessão. Era uma situação que eu não havia experienciado ainda.

Logo no primeiro mês, enviei mais de 100 currículos, 101 para ser exata, em sites de consultoria, emprego e também por e-mail. Recebemos uma mísera ligação ao final daquele mesmo mês, mas quando a pessoa do outro lado da linha percebeu que se tratava de um estrangeiro, deu um jeito de logo finalizar a ligação. Disse que ligaria novamente mais tarde porque teria uma reunião dali a poucos minutos. Uma desculpa, claro, a ligação simplesmente nunca aconteceu. Nem me surpreendi, porque já tinha visto esse filme antes. Alguns dias depois, mais uma ligação para uma entrevista na empresa que meu respectivo viria a trabalhar mais tarde, mas que naquela ocasião não deu em nada. Em suma, em mais ou menos três meses, eu havia mandado quase 300 currículos que resultaram em apenas duas ligações, uma média que achei péssima, mas até entendi, pois fim de ano é mesmo uma época tradicionalmente ruim para conseguir um emprego, todo mundo com a cabeça nas festas.

Comecei o ano seguinte (2016) com todo o gás, pois gosto de início de ano, sinto-me renovada e mais disposta. Até aquele momento, eu só pagava o plano trimestral básico da Catho. Decidi, então, investir no plano trimestral do BNE (Banco Nacional do Emprego) também. Em janeiro, mandei 123 currículos, e em fevereiro, 103. Em março, as coisas começaram a ficar estranhas, percebi uma diminuição significativa nas vagas de trabalho na área do marido, o que se refletiu na quantidade de currículos que enviei. Naquele mês, foram apenas 75 currículos enviados, o que realmente me deixou preocupada. Abril, então, foi pior ainda, em dez dias, enviei apenas 7 currículos! Não foi preguiça, nem diminuição do esforço na procura, pois tudo continuava igual, o problema foi mesmo a falta de vagas! Já era reflexo da grave crise que assolava o país. Entretanto, entre janeiro e março, ele fez 5 entrevistas, e em duas foi selecionado entre os finalistas. Isso me aliviou um pouco, pois percebi que mesmo sendo estrangeiro, ele era considerado no mercado de trabalho, portanto as questões discriminação e xenofobia puderam ser afastadas.

Eis, então, que das duas entrevistas em que ele ficou entre os finalistas, uma foi convertida e conseguimos um novo emprego!!! E um detalhe muito importante, isso aconteceu com apenas 6 meses e meio de desemprego, uma conquista e tanto! Por quê? Porque as pessoas com a mesma qualificação de meu marido, brasileiros, estavam demorando muito mais tempo para conseguir um novo emprego. Conheci, inclusive, uma pessoa que estava há mais de um ano desempregada e que precisou se virar como atendente de loja, mesmo tendo um diploma de engenharia. Ver o tempo de procura por um emprego cair de quase dois anos, como foi na primeira vez, para apenas seis meses e meio é algo realmente incrível, nem eu acreditei. E não foi sorte, definitivamente.

Vamos, então, aos números:

  • 568 currículos enviados;
  • 7 ligações para entrevista, sendo uma entrevista apenas por telefone, as demais todas pessoalmente;
  • Média de 1 ligação a cada 81 currículos enviados.

O processo seletivo para a vaga para qual ele foi selecionado consistiu das seguintes etapas:

  • Primeiro contato por telefone convidando para a entrevista (que na verdade foi uma dinâmica);
  • Dinâmica em grupo com 8 pessoas;
  • Convocação para a segunda etapa do processo seletivo por e-mail;
  • Entrevista individual e apresentação de 20 minutos de cada um dos 4 selecionados da primeira etapa com o gerente;
  • Escolha do candidato.

O resultado veio muito rápido. A etapa da entrevista individual foi em uma segunda-feira à tarde e no dia seguinte, bem cedinho, ele já estava recebendo a ligação com a notícia da aprovação e a convocação para reunir os documentos e começar a trabalhar em dois dias. Nem tivemos muito tempo para celebrar ou digerir a conquista, foi bem estranho, mas me causou um alívio imediato, uma vez que não precisaria mais enviar currículos diariamente. Aquilo estava realmente consumindo muito do meu tempo, como deve mesmo ser, pois procurar um emprego deve ser encarado como um emprego. O problema era que isso consumia um tempo que eu não tinha e estava muito difícil equilibrar todas as minhas atividades e responsabilidades, eu estava extremamente estressada.

Preciso destacar que as sete vezes em que o currículo do respectivo foi selecionado foi pelos seguintes meios:

  • Vagas.com – 2 vezes
  • Catho – 2 vezes
  • E-mail direto para vagas específicas – 2 vezes
  • Meio desconhecido (realmente não sei como chegaram ao currículo dele) – 1 vez

Por ter investido nos planos pagos da Catho e do BNE, esperava mais deles, então achei que esses serviços deixaram a desejar naquela ocasião, eu realmente esperava mais ligações, especialmente do BNE. Se eu pagaria novamente? Muito provavelmente a Catho, pensaria melhor no caso do BNE. Mas estou muitíssimo satisfeita com o Vagas.com, além de reunir as melhores empresas e vagas, é um site gratuito e foi o meio pelo qual enviei o currículo do respectivo para a vaga que resultou em sua contratação.

Por que compartilho tudo isso aqui com vocês? Porque sempre escuto a mesma ladainha de que é quase impossível para um estrangeiro conseguir um emprego no Brasil, e que quando consegue foi por sorte ou por indicação. Isso é MENTIRA e desculpa de gente que não se empenha de verdade. Meu marido não é sortudo nem conseguimos indicação nenhuma de quem quer que seja, tudo é fruto de nosso esforço conjunto, da nossa garra, da nossa dedicação: sou responsável pela redação do currículo, da carta de apresentação e do corpo dos e-mails, bem como pela procura das vagas e envio dos currículos, e meu marido, claro, fica responsável por toda a preparação antes das entrevistas, que incluem pesquisa sobre a empresa, preparação das respostas mais perguntadas de modo a relacionar a sua experiência com os requisitos da vaga, pela preparação para os testes, e assim por diante. Em suma, funcionamos muito bem juntos, e continuaremos assim até o fim.

Nós, brasileiros, somos a grande chave do sucesso de nossos companheiros no Brasil, por isso precisamos participar ativamente, auxiliando-os naquilo que for possível. Se este post foi útil e esclarecedor, deixe seu comentário, curta e compartilhe! Obrigada!

manualquasepratico@hotmail.com

Possibilidade de Estrangeiro Fazer Estágio de Pós-Graduação no Brasil

Quando meu marido estava sem emprego e procurávamos um insistentemente, começamos a pensar em soluções alternativas que pudessem ajudá-lo a encontrar uma vaga mais rapidamente. Então eu descobri que QUEM FAZ PÓS-GRADUAÇÃO TAMBÉM PODE ESTAGIAR. Olha só que coisa linda – foi o que eu pensei.

A legislação que regula o estágio permite que os estudantes de pós-graduação estagiem, uma vez que, de acordo com esse dispositivo legal, pós-graduação é classificado como um curso do Ensino Superior. Dei pulos de alegria ao fim de minha pesquisa, pois seria mais uma opção, mais um alvo para tentar acertar.

Claro que a ideia da pesquisa sobre estágio em pós-graduação não brotou do nada, pois eu nunca tinha parado para pensar se isso era possível ou não, mas por acaso lembrei que, certa vez, em minhas procuras por emprego, vi um anúncio para vaga de estágio para quem estivesse cursando, no mínimo, mestrado, então parecia meio óbvio que não haveria nenhum impedimento ao aluno de pós-graduação também. Com isso em mente, fui ler um pouco sobre a lei que regula os estágios e também alguns artigos sobre o assunto.

Um dos artigos que li sobre o assunto falava o seguinte:

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Ao ouvir falar sobre oportunidades de estágio, muitos profissionais imaginam vagas destinadas a alunos do Ensino Médio, Técnico ou Superior. Mas saiba que há também opções para estudantes de pós-graduação. A legislação permite estágios de pós-graduação, já que esses cursos, pelos dispositivos legais, são do Ensino Superior. Mas, para estagiar, é necessário que haja aprovação e intervenção da instituição de ensino do aluno.

“Para os estagiários de pós-graduação, valem as mesma regras. A carga horária também é de seis horas diárias, com tempo máximo de estágio de dois anos em uma mesma empresa”, explica a gerente de Treinamento do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios), Carmen Alonso. Sobre a bolsa-auxílio, o estagiário recebe o valor aproximado dos estágios de graduação.

A especialista declara que aceitar um estágio de pós-graduação é válido para profissionais que querem mudar de ramo ou trabalhar em um segmento específico. “A vantagem é direcionar a carreira. Além de ser uma maneira mais rápida de migrar de área. Mesmo ganhando menos, vale a pena”, afirma.

Para as empresas, também existem vantagens em contratar um estagiário na pós-graduação, já que esses profissionais são mais maduros, têm mais experiência e conhecimento. “Para a empresa, o networking desse profissional também é importante. Essa pessoa já trabalhou antes e esses contatos podem agregar para a empresa”, acrescenta.

Sobre as áreas que oferecem mais vagas de estágios para alunos de pós-graduação, Carmen cita Saúde e Administração. “São áreas específicas como Administração em ênfase em Comércio Exterior. Há outras vagas disponíveis, mas, geralmente, os alunos não sabem que podem estagiar”, finaliza.

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Bem, não que fosse um sonho ver meu marido estagiando, mas quem não tem cão caça com gato, então pensei que, se ele conseguisse estágio em uma empresa bacana, quem sabe uma multinacional, seria muito bom para seu currículo, ainda que o salário fosse ruim. A longo prazo valeria a pena.

Outro artigo dizia o seguinte:

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Eu não posso fazer estágio durante a pós-graduação. Mito ou verdade?

Mito. Muitos desconhecem, mas estágios também são permitidos para estudantes de pós-graduação. Muita gente acha que os estágios são direcionados apenas para alunos de Ensino Médio, cursos técnicos e de graduação. Porém, o que muita gente desconhece é que os estágios também são permitidos por lei para a pós-graduação, já que, pelos dispositivos legais, ela integra o Ensino Superior.

O desconhecimento sobre o assunto existe tanto por parte de estudantes quanto de empresas, fato que contribui para uma baixa oferta de vagas destinadas a este público. Segundo a coordenadora do Centro de Desenvolvimento Pessoal e Profissional (Cedesp) da Unimonte, Flávia Dantas, as organizações parceiras da instituição costumam solicitar apenas estagiários de graduação. “Acredito que isso aconteça realmente por mera falta de informação e desconhecimento da lei. Há, por exemplo, organizações que limitam seus processos de seleção para recém-formados, quando poderiam adicionar também os pós-graduandos”.

Para se ter uma ideia, até mesmo as regras são iguais: carga horária de até seis horas diárias, com tempo máximo de estágio de dois anos em uma mesma empresa. Flávia ainda acrescenta: “Hoje em dia, o estudante de pós-graduação não possui tanta bagagem e vivência na área em que se graduou. Geralmente eles são recém-formados e a maior parte nem está ainda no mercado de trabalho. Ingressam na pós justamente para adquirir mais conhecimentos sobre um segmento específico e fazer networking”.

Entretanto, é preciso levar em conta que fazer um estágio como pós-graduando, na maior parte das vezes, representa abrir mão de salários maiores. Exige sacrifício financeiro. Além disso, é comum ainda existir um certo preconceito pelo fato de um profissional formado procurar um estágio ao invés de um emprego efetivo. “Neste caso em específico, a pessoa já formada faz isso pensando a longo prazo. Ela até pode ganhar menos durante um período, mas está em busca de dar uma direção à carreira, aprimorar o currículo com outras experiências para, depois, ir atrás de novas oportunidades profissionais e melhores salários”, afirma Leonardo Ferreira, diretor do núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa da Unimonte.

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A Associação Brasileira de Estágios dispõe de um link em seu site com as dúvidas frequentes, e a pergunta mais interessante para nós, que nos relacionamos com estrangeiros, é essa abaixo:

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20. Pode ser concedido estágio a estudantes de pós-graduação (mestrado ou doutorado)? E a estudantes estrangeiros?

De acordo com os dispositivos legais vigentes, podem ser estagiários os estudantes de educação superior. Em termos amplos, ao considerarmos os cursos de pós-graduação, como de nível superior, como realmente o são, há possibilidade de contratar-se tais estudantes como estagiários, de acordo com a legislação vigente, desde que haja aprovação e interveniência da respectiva Instituição de Ensino. Os estudantes estrangeiros regularmente matriculados em instituição oficial ou reconhecida têm o mesmo direito dos nacionais.

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Bom, considerando o caso dos estudantes estrangeiros, que venham ao país portando visto temporário de estudante, ainda que não possam exercer atividade remunerada, de acordo com a legislação brasileira, pela natureza de seu visto, eles podem ganhar uns trocos como estagiários. Parece-me uma situação contraditória, mas que está lá elencada na legislação sobre estágios. Não custa tentar, certo?

Em nosso caso, como não precisávamos nos preocupar com isso, afinal, o marido era permanente, começamos a estudar as possibilidades e a procurar pelas oportunidades. Cheguei até a mandar um e-mail para uma analista de recursos humanos de uma grande multinacional japonesa perguntando se eles ofereciam programa de estágio de pós-graduação e falando brevemente sobre a lei que permite estágios nesta situação. E não é que ela respondeu? A resposta foi que eles ofereciam estágios técnicos e de graduação (na verdade ela escreveu estágio superior no lugar de graduação e logo percebi que ela não manjava nada e nem tinha noção do erro ao usar o termo “superior”, que é genérico, porque engloba mais opções que não só a graduação), mas pelo menos houve resposta.

Na verdade, como os próprios artigos acima deram a entender, não é lá muito fácil achar estágio para pós-graduação, mas a uma empresa, que não seja das grandes e que tenha receio de contratar um estrangeiro, pode ser ofertada essa possibilidade. Fizemos isso uma vez e não é que o sujeito se interessou? A ideia só não foi adiante porque meu marido conseguiu emprego.

A quem interessar possa, segue o link da legislação sobre estágio:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm

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Palpites Furados que as Pessoas Dão para Estrangeiros no Brasil

Se houve uma coisa que escutei muito antes e depois da vinda de meu marido ao Brasil foi palpite furado sobre o que deveríamos fazer ou não. E ora, vejam só, que coincidência, todos os palpites foram negativos, que coisa, não? Meu conselho é, nunca deixe ninguém dar palpite furado, te pôr para baixo ou tirar suas esperanças do que quer que seja, pois se vocês se esforçarem, vai dar tudo certo, sim, não tem porque dar errado. Pode até demorar um pouco, mas que dá certo, é claro que dá.

Infelizmente, algumas pessoas bem que tentaram me envenenar com seu pessimismo. Não me deixei abater, mas também sou daquelas que não esquece nomes jamais. Uma amiga minha, que eu considerava bastante, disse, antes mesmo de meu marido se mudar para o Brasil, que ela tinha peninha de mim, porque ele dificilmente conseguiria emprego. Que legal, né? Outra pessoa, uma prima mais distante, também soltou uma pérola quando eu comentei com ela que meu marido havia recebido uma proposta de trabalho através de um contato. A oferta era para trabalhar como operador de produção, mas que ele havia recusado, já que ele era engenheiro, tinha qualificação e experiência suficientes e também porque seu perfil estava despertando interesse no mercado de trabalho. Pois não é que a prima deu uma risada diabólica e disse que era pouco provável que ele começasse tão bem, trabalhando como engenheiro, e que ele tinha que começar por baixo? Ah tá, entendi.

Não satisfeita, ela disse que ele só conseguiria emprego se tivesse um contato para arranjar para ele, que ela mesma já tinha procurado muito emprego na vida e que a coisa só funciona mesmo na base do contato. Será esse o motivo pelo qual ela ainda não engrenou em sua própria carreira, mesmo sendo graduada em uma área cheia de oportunidades? O que será que ela fez, ou deixou de fazer, que não conseguiu emprego bom por méritos próprios? Será que ela acha que conseguir emprego por contato é um atalho que facilita muito a vida? O engraçado é que ela não foi a única a falar uma coisa dessa, tá cheio de gente por aí que acredita piamente nisso.

Se tem uma coisa que eu simplesmente não aguento é esse tipo de papo. Quando se fala em procurar emprego, a primeira coisa que falam é sobre contato. Isso cansa a minha beleza, sério mesmo. Se há um contato realmente bom, disposto a fazer alguma coisa por você, ótimo! Mas isso não significa que você deva pregar a sua bunda no sofá e esperar a boa vontade do contato, mexa-se enquanto isso se você acha mesmo que esse lance de contato é o que realmente funciona. Talvez seja pessimismo meu, mas eu não acho que muita gente esteja assim tão disposta a ajudar e te ver bem sucedido e encaminhado. Familiares, amigos próximos e um ou outro conhecido podem até torcer por você e estar mesmo interessado em te ajudar, mas quanto ao restante, com raríssimas exceções, não estarão nada preocupados.

Não sou besta de dizer que contatos não existem, eu até conheço algumas poucas pessoas que foram contratadas dessa maneira, mas eu acredito muito mais na capacidade das pessoas, acima de qualquer indicação ou contato. Claro que quando se fala em contatos, há muitos tipos a se levar em consideração e não somente aquele conhecido que conhece alguém que pode ajudar. Há indicação por capacidade, mas também por amizade e simpatia, e não necessariamente por qualificação. Também tem o “jeitinho” brasileiro e assim por diante. Mas não importa, eu ainda acho que qualificação fala muito mais alto e que uma pessoa preparada não deve temer procurar emprego pelos modos tradicionais, sem atalhos. Vai conseguir.

É óbvio que é muito cômodo defender que as coisas aqui no Brasil só funcionam na base do quem indica, mas eu não acho que isso seja verdade. A real é que a maioria dos empregos é conquistada na raça mesmo, só leva quem for o melhor. Não à toa que hoje em dia há processos seletivos longuíssimos, caros, divididos em várias etapas e conduzidos por profissionais especializados. É idiota pensar que uma empresa vai gastar tempo e dinheiro fazendo seleção de pessoal se no fim das contas vão contratar um sujeito que foi indicado por alguém de dentro da empresa. Isso pode até acontecer, mas não é a regra.

O pior é que até mesmo entre os próprios estrangeiros vivendo no Brasil há esse consenso de que a maioria só consegue emprego por indicação, cheguei até ler alguns artigos sobre isso em inglês! Pois olhe, eu, em minha insignificância, desafiaria qualquer um, seja brasileiro ou estrangeiro, a enfiar a cara e procurar emprego de verdade, com vontade, para ver se conseguiria ou não. Eu mesma fiz isso, mesmo escutando zilhões de vezes que era quase impossível, e deu certo todas as vezes.

Talvez eu esteja errada, mas o que eu acho que acontece muito é o sujeito ter uma preguiça profunda no corpo, porque eu estaria mentindo se dissesse que é fácil e agradável procurar emprego pelo modo tradicional. É claro que não, e é claro que dá preguiça, e é por isso que as pessoas se fiam muito nessa história de contato. Outra desculpa muito comum entre estrangeiros é culpar sua condição de estrangeiro no Brasil, dizendo que não entende nada do sistema daqui e que brasileiro é protecionista. Desapegue, isso não é verdade. Uma vez que se está morando aqui, é melhor começar a aprender a se comportar como um daqui no mercado de trabalho, pois na prática você será tratado como outro brasileiro qualquer, não há processos especiais, é tudo igual. E as empresas não descartam um estrangeiro por ser estrangeiro, eles descartam aqueles profissionais que não possuem as competências e habilidades necessárias para a posição, seja brasileiro ou estrangeiro, simples assim.

Então, por mais que eu tenha escutado milhares de vezes que só conseguiríamos por indicação, eu liguei o aviso luminoso de “dane-se” (para não dizer outra coisa) para essas pessoas e fui correr atrás, porque para dar palpite furado o povo é muito bom, indicar ou ajudar que é bom. ninguém quer. Se eu não tivesse arregaçado as mangas e estivesse esperando por uma intervenção divina, ou uma ajuda amiga ou de quem quer que fosse, sabe lá o que seria de nós. Na verdade eu sei, sim, meu marido estaria desempregado até hoje.

Acho que quase ninguém acreditava que fôssemos conseguir, mas quando viram que nosso esforço procurando emprego estava dando resultado, as pessoas começaram a pedir dicas para nós, até mesmo ajuda! Gente que eu sei que nunca procurou um mísero emprego na vida, que todos os empregos que teve foram na base da ajuda de amigos e familiares, mas quando viu que a coisa funciona mesmo, se animou para fazer igual. Uma dessas pessoas queria até que eu fizesse para ela a mesmíssima coisa que fiz para o marido, em troca ela me daria 3% de seus três primeiros salários. Esses 3% eu não sei de onde foram tirados, mas abafa o caso, eu desconversei o assunto, porque eu jamais faria para ninguém do mesmo jeito que fiz para o marido. Talvez só fizesse igual se fosse muito bem remunerada para isso.

A “amiga” que disse que tinha peninha de mim também soltou mais uma pérola certa vez quando soube que tínhamos conseguido, ela disse que a notícia era ótima, mas que agora teríamos que rezar para ele permanecer empregado. Outro sujeito disse que sem revalidar diploma e sem registro no conselho de classe, meu marido só poderia trabalhar como operador de produção. Detalhe que esse sujeito tem a mesma formação de meu marido e disse isso na cara dele, sem dó nem piedade. O pior de tudo é que meu marido acreditou, pois foram palavras que saíram da boca de um colega de profissão. Nós acabamos brigando por causa disso, tudo por causa de um sujeito ignorante que nem sabe de nada sobre a situação do estrangeiro no Brasil e fica falando um monte de merda que julga ser verdade. Queria que ele explicasse o fato de meu marido ter conseguido um emprego bom, com um cargo que em nada tem a ver com operador de produção. Eu fiquei morta de ódio. Só para esclarecer, já falei sobre isso antes, não temos nada contra operadores de produção, é uma profissão digna e fundamental à indústria, mas quem trabalha como operador o faz por falta de maiores opções, porque falta muitas coisas, como qualificação, estudos, mais oportunidades, etc. Quase ninguém escolhe ser operador quando crescer, é a ocasião que faz a situação, ou seja, a falta de maiores opções. Meu marido tinha opções, estudo, oportunidade, demorou um bocado, mas deu certo.

A grande questão em relação aos palpites furados que as pessoas dão é, eu sei muito bem o que meu marido, na condição de estrangeiro, pode ou não pode fazer, quais são seus direitos, quais são suas limitações, eu me informei sobre tudo de mais importante que precisávamos saber. Não será um completo idiota e ignorante, que não sabe de nada disso, que vai me “instruir” sobre o assunto. Por isso tudo é que nunca pedi opinião nem orientação a ninguém, sempre fui auto-suficiente, pesquisei tudo nas leis, nos sites dos ministérios e em várias outras fontes, pois conhecimento e informação são nossos melhores companheiros nesta jornada. Dessa maneira, ninguém conseguirá nos fazer de idiota ou nos enganar, sabemos de nossos direitos. O achismo das pessoas não tem cabimento nenhum em momento algum. E se for para desabafar com alguém, seja muito criterioso na hora de escolher, um único desabafo com a pessoa errada, na hora errada, pode colocar muita coisa a perder.

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Dicas de Procura de Emprego para Estrangeiro no Brasil – III

Durante a procura por emprego para meu marido estrangeiro aqui no Brasil, por duas vezes ele esteve bem perto de conseguir uma vaga em sua área de atuação, mas as vagas foram suspensas. Isso é possível ou é só lorota? Não só é possível como também é muito comum de acontecer.

Uma das vagas era para uma multinacional alemã de médio porte. Meu marido foi chamado para a entrevista principalmente por causa do seu segundo curso de aperfeiçoamento, o qual ele tinha feito recentemente à época e que tinha tudo a ver com a vaga que a empresa estava ofertando. Na primeira entrevista, além de conversar com a analista de RH, ele teve oportunidade de conversar, também, com o dono da empresa, que era alemão. Nesse encontro, o alemão comentou que a continuidade do processo seletivo dependia de uma permissão que viria da Alemanha, qualquer que fosse o candidato selecionado, mas que, independente disso, haveria uma segunda rodada de entrevista com um dos diretores da fábrica. No dia combinado, ele foi fazer a entrevista com o tal do diretor e não é que o sujeito olha bem pra cara dele e diz que era contra a abertura da vaga, que a empresa não precisava, que era um gasto desnecessário e tal? Achei estranho, afinal, se eles não estavam nem ao menos certos sobre o futuro da vaga, nada daquilo fazia sentido. Passado um tempo, a analista de RH ligou confirmando que a vaga havia mesmo sido suspensa.

A outra vaga, que também acabou sendo suspensa, era super interessante. Tratava-se de uma empresa terceirizada, bem pequena, mas que prestava serviço para uma gigante dos eletrodomésticos. Todo o serviço seria em inglês, era um pré-requisito indispensável. E havia outros estrangeiros trabalhando na empresa, um colombiano e um equatoriano, que também eram casados com brasileiras. No fim, a vaga também foi suspensa por motivos econômicos.

Eu nunca fiz distinção na hora de mandar currículo, eles foram enviados tanto para empresas pequenas, quanto para as grandes multinacionais, só procurei manter o foco na hora de escolher as vagas para as quais mandar. Mas mesmo assim, meu marido passou por duas situações curiosas. Certa vez, ele foi chamado para entrevista em uma indústria bem pequena. Era uma vaga mais simples e com uma remuneração ruim, além de ser super longe de casa. Tínhamos plena noção de tudo isso, mas como a vaga tinha certa relação com a experiência do marido, ele resolveu ir à entrevista mesmo assim e até estaria disposto a aceitar uma oferta, afinal, um desempregado pode até ser um pouco seletivo em suas escolhas, mas não tanto assim. Resumindo história, o dono da empresa, que foi quem o entrevistou, estava super nervoso e desconfortável, porque era currículo e experiência demais para uma empresa de porte tão pequeno.

Em outra situação, viajamos uma hora e meia de carro para uma entrevista em uma empresa multinacional de grande porte em outra cidade para escutar que ele era qualificado demais para a vaga. Ora, então por que nos fizeram viajar tantos quilômetros para nada?

Em geral, eu sempre procurei enviar o currículo do marido para vagas em que ele teria mais chances e é lógico que, por ser estrangeiro, teoricamente as chances são maiores em empresas multinacionais, ou então em vagas em que o inglês fluente seja pré-requisito. Vale ressaltar que o espanhol fluente também é muito valorizado e solicitado aqui no Brasil, o inglês ganha a disputa por pouco. Outras línguas solicitadas são o francês e o alemão, com menor frequência chinês, japonês e italiano. De qualquer forma, ainda que minha preferência sempre tenha sido multinacionais, mandei o currículo para as nacionais de pequeno e médio porte também, sem distinção.

Também é legal criar um perfil profissional no LinkedIn, site muito utilizado por profissionais para fazer networking e procurar emprego. Já mandei vários currículos utilizando as ferramentas do site, mas confesso que ainda não fazemos amplo uso de todas as ferramentas que ele oferece, mas apenas o básico, como participar em grupos de profissionais, grupos de divulgação de vagas, grupos de estudos, envio de currículos, etc. Também seguimos o perfil de algumas empresas pelas quais meu marido se interessa e, claro, adicionamos contatos profissionais. A ideia não é fazer volume, mas sim selecionar seus contatos com qualidade. Os contatos que meu marido tem são, em sua maioria, pessoas que ele conheceu durante seus cursos, os analistas e gerentes de recursos humanos de empresas diversas – inclusive com quem ele fez entrevistas – e profissionais de outras áreas que ele eventualmente tenha tido contato e/ou trabalhado.

O bacana é que ele já recebeu alguns convites para entrevistas por meio do LinkedIn sem nem ao menos se dar ao trabalho de ir atrás, inclusive quando estava trabalhando. Então, apesar de não explorarmos todas as possibilidades do site como deveríamos, eu acho muito válido manter o perfil atualizado (é o que eu faço), pois as grandes e boas empresas o estão usando cada vez mais para divulgação de vagas e recrutamento de pessoas. Recomendo.

Depois de mandar currículo frequentemente por mais de um ano, fiquei com uma forte sensação de que uma boa época para intensificar a procura por emprego é a partir da metade de dezembro até, no máximo, o meio do ano, ou seja, durante todo o primeiro semestre. Não que no segundo semestre do ano seja ruim, mas parece-me que há uma queda significativa das ofertas. O motivo eu realmente não sei, mas li algo relativo a isso em vários artigos sobre profissão e carreira que reforçaram essa minha sensação.

Eu já passei algumas férias de verão procurando emprego para o marido, em véspera de Natal e Ano Novo inclusive, mesmo se estivesse na praia. Não houve um dia sequer que eu não tenha enviado currículo. Claro que durante o período de festas, por causa dos feriados e férias coletivas de muitas empresas, não há tanta vaga sendo anunciada. Em compensação, não há, também, tanta gente procurando emprego e isso pode ser vantajoso para quem está determinado a conquistar uma vaga, afinal, enquanto você está lá, sacrificando seus momentos de folga procurando emprego, atividade que definitivamente não tira férias, muita gente está querendo curtir as férias, o verão, as festas e tudo o mais a que se tem direito. Então reflita sobre quem irá sair em desvantagem nesse caso.

Dizem que as pessoas geralmente só começam a se preocupar com emprego depois do carnaval. Não sei se é verdade, mas tiro proveito disso sempre que necessário e mantenho, e até intensifico, a rotina de envio de currículos enquanto os concorrentes estão entretidos pelo clima de festas e pelo verão. São alguns dos sacrifícios que a gente tem de fazer se estamos realmente firmes em nossos propósitos e determinados a realizá-los. Como eu queria ver o marido empregado o mais rápido possível, tive mesmo que sacrificar muitas horas de descanso. A tática sempre deu certo e ele sempre conseguiu emprego no primeiro trimestre do ano. Não tenho dúvida de que foi resultado do esforço que sempre fizemos de enviar o currículo dele intensamente, mesmo durante as festas de fim de ano.

Perdeu as dicas anteriores? Leia aqui e aqui.

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Dicas de Procura de Emprego para Estrangeiro no Brasil – II

Para quem não leu o primeiro post com dicas para a procura por emprego para estrangeiro morando no Brasil, sugiro que lei o primeiro post de dicas, clicando aqui, e também o post “Como Conseguir Emprego para Estrangeiro no Brasil – Relato de Sucesso“. Continuemos, então.

Supondo que não haja nada de errado com o currículo, ou seja, que ele esteja bem escrito, e que seja claro e objetivo na descrição das experiências e conquistas profissionais; supondo, também, que o estrangeiro esteja procurando emprego com vontade, enviando currículo todos os dias, religiosamente, ou pelo menos quase, e que também esteja procurando se aperfeiçoar profissionalmente para se posicionar melhor no mercado de trabalho, é quase certo que, muito em breve, ele comece a receber ligações das empresas, não tem erro.

Só para vocês terem uma ideia da necessidade de ser regular e insistente em seus envios de currículos, sempre que meu marido é aprovado em um processo seletivo, eu, logicamente, paro completamente de enviar currículos, e as ligações também param abruptamente. Às vezes recebemos algumas ligações “residuais” relativas ao envio de currículo durante o período imediatamente anterior à contratação, quando ainda enviávamos currículos sistematicamente, mas, basicamente, as ligações cessam completamente.

Isso apenas reforça aquilo que eu já falei em outros posts, não tenha preguiça! Quanto menos currículos enviar, quanto mais dias você falhar e sentir preguiça, mais suas chances diminuirão. Você, estrangeiro(a) ou companheiro(a) de estrangeiro, procurando emprego, não pode se dar ao luxo de pensar na morte da bezerra. Se quiser trabalho, vai ter de trabalhar muito antes, e o pior, trabalho não remunerado, mas pode estar certo que, quando você conseguir, verá como todo o esforço terá valido a pena e terá se arrependido de não ter feito isso antes.

Lembro de ter lido, certa vez, em um site popular entre estrangeiros morando no Brasil, um sujeito reclamando de dar muitas entrevistas e de nunca dar em nada, e que ele estava farto disso. Isso é mesmo um fato, você dá mesmo uma infinidade de entrevistas que, no final das contas, foram quase perda de tempo, e de dinheiro também, e que não dão mesmo em nada. Só não é uma completa perda de tempo, porque a pessoa que passa por muitos processos seletivos aprende muita coisa, incluindo como se portar, o que falar ou não, quais erros não cometer novamente em outra oportunidade, o que fez corretamente. Isso é igual para estrangeiros e brasileiros. Não adianta reclamar, tudo isso faz parte, você vai ter de gastar muita sola de sapato, muita gasolina ou passagem de ônibus, muito tempo indo para lá e para cá, torrar muitos neurônios, porque, definitivamente, não se consegue emprego da noite para o dia. Você vai se cansar, vai se frustrar, mas não pode desistir jamais, terá que continuar gastando a sola do sapato até conseguir algo, por mais que tudo indique que nunca irá conseguir. Só não vai conseguir se não tentar. Só se tem duas opções, enfiar a cara e lutar até conseguir ou voltar para sua zona de conforto em seu país de origem. Meu marido até que pensou várias vezes em voltar para sua zona de conforto, mas eu nunca o encorajei a pensar nisso, sempre procurei incentivá-lo a pensar a longo prazo, nas infinitas possibilidades que se abririam para ele caso continuasse firme em seu propósito. No fim das contas, ele mesmo reconheceu que eu estava certa e que ele só precisava de uma única chance para deslanchar aqui. E foi exatamente o que aconteceu.

Eu já contei sobre a imensa dificuldade que meu marido teve para lidar com todas as ligações para entrevista que ele recebia neste post aqui, foi um verdadeiro tormento na vida dele e na minha também. Por quê? Porque ele ainda não era fluente em português naquele momento, então imaginem como era no começo, com um português básico. No caso dele, sempre houve muita dificuldade de compreensão ao telefone e também uma boa dose de falta de confiança para lidar com as ligações sozinho. Mas ele teve que dar um jeito e dar seus pulos para conseguir marcar as entrevistas.

Depois de escutar meu marido falando ao telefone em dezenas de ligações, consigo, seguramente, traçar um script para todas elas, a coisa pouco muda. A pessoa liga, pede para falar com fulano de tal, daí dizem que estão ligando da empresa x, para a vaga y e perguntam se ele tem interesse na vaga. Às vezes comentam um pouco sobre a atividade a ser desenvolvida, sobre os benefícios e salários ofertados e então, ou fazem algumas perguntas relativas à experiência profissional, ou sem maiores indagações já marcam direto o dia e a hora da entrevista. Quando dizem que tornarão a ligar, depois de especular um pouco sobre o candidato ao telefone, é pouco provável que liguem, por mais contraditório que possa parecer. E quando perguntam algo, é sempre para falar um pouco sobre sua experiência profissional ou para perguntar se tem alguns conhecimentos específicos, geralmente coisas que são solicitadas para a vaga em questão. Também perguntam bastante sobre nível de conhecimento de inglês, país de origem, qual a situação no país, e coisinhas assim, nada complexo ou difícil. São perguntas básicas que qualquer estrangeiro com um nível de compreensão intermediário na língua portuguesa conseguirá se virar razoavelmente bem para responder e, caso esteja encontrando dificuldades, não há problema nenhum em pedir para a pessoa do outro lado repetir ou falar mais devagar. Muitas das pessoas que ligaram para meu marido até mesmo se ofereceram para conversar e explicar as coisas em inglês, poucas foram as pessoas que foram grosseiras. Para ser mais específica, três pessoas desligaram o telefone na cara dele quando perceberam que ele era estrangeiro, vejam só quanto profissionalismo por parte delas. Sempre tem aquele profissional despreparado e que nem merece estar ocupando tal posição.

Pois bem, se você conseguiu superar uma ligação e conseguiu ter uma entrevista agendada, já é meio caminho andado, uma primeira barreira superada, e significa que a empresa quer conhecer melhor seu perfil profissional, apesar de que isso, a princípio, não significa muita coisa, significa apenas que seu perfil despertou interesse.

O que se deve fazer agora é estudar e se preparar do melhor jeito possível. Se você pensa que é só sentar e esperar pelo dia da entrevista, então você estará assassinando e enterrando sua chance desde já. As entrevistas também seguem um script previsível e é dentro desse script que você terá de se virar nos trinta para mostrar toda sua capacidade e potencial. Isso sem falar na possibilidade de ter de fazer testes, como eu já falei bastante nesta publicação aqui.

Nas primeiras entrevistas que meu marido deu, ele não conseguiu mostrar a que veio, ele apenas mostrou que era um gringo com um português ruim de dar dó e desesperado para conseguir um emprego. Quando seu português começou a dar sinais de estar deixando de ser um atentado aos ouvidos alheios, ele começou a ter noção de que precisava se preparar adequadamente para as entrevistas, em especial após uma delas, em que o analista e o supervisor de recursos humanos de uma empresa acabaram com a raça dele, fazendo perguntas e mais perguntas para as quais meu marido não tinha a mínima noção do que responder. Depois desse episódio, ele fez uma extensa pesquisa na internet sobre as questões mais perguntadas durante entrevistas, fez uma lista delas e respondeu uma a uma em inglês, que depois eu traduzi para o português para ele. Em geral, eles sempre perguntam algumas daquelas questões que ele havia preparado as respostas. E é muito, muito difícil o recrutador brasileiro fazer perguntas esdrúxulas durante os processos seletivos, apesar de ser algo comum no exterior.

Outro ponto importante é sempre ler sobre a empresa na qual você fará a entrevista. Acesso o site dela e leia de cabo a rabo a parte institucional, missão, valores, investimentos, novidades, tudo, isso mostra que a pessoa tem interesse, que dedicou um tempo pesquisando sobre a empresa. Claro que isso, por si só, não te garante emprego nenhum, mas certamente conta pontos, além de encorpar substancialmente sua fala na hora da entrevista.

Além de ter essas questões preparadas e respondidas, você sempre deve estudar em casa antes de toda e qualquer entrevista. Revise as respostas das perguntas frequentes até cansar. Meu marido fica praticando as respostas sozinho por horas até sentir que está seguro para falar. Procure, também, ler artigos sobre o assunto em sites que publiquem dicas sobre carreira e emprego, especialmente erros frequentes durante entrevistas de emprego e coisas assim, até mesmo sobre que tipo de traje vestir. Meu marido errou o traje uma única vez, em sua primeira entrevista, mas logo compramos um traje social para ser usado somente para esse fim, que consistia de calça social risca de giz azul marinho, duas camisas sociais de manga longa – branca e azul – e um par de calçado preto social. Simplesmente não tem erro, a não ser que seja uma entrevista para altos cargos executivos e formais, situação que requer uso de terno e gravata. Como não era nosso caso, o traje que escolhemos estava mais do que bom. Meu marido não aguenta mais nem ver em sua frente seu modelito de entrevista.

Você poderá ler a continuação desse post clicando aqui. Se este post foi útil e esclarecedor, deixe seu comentário, curta e compartilhe! Obrigada!

Dicas de Procura de Emprego para Estrangeiro no Brasil – I

Já relatei, brevemente, no post “Como Conseguir Emprego para Estrangeiro no Brasil“, um pouco sobre como foi que meu marido conseguiu emprego aqui. Não há uma fórmula pronta e mágica para conseguir um emprego, mas sim uma somatória de ações positivas que, juntas, acabam fazendo uma grande diferença no fim. Até então, eu nunca havia trocado ideias com um brasileiro desempregado à procura de emprego para saber se a dificuldade é a mesma que um estrangeiro enfrenta ou não, mas eu realmente acho que não é fácil para ninguém.

As empresas, hoje em dia, querem excelência. Eles procuram, sim, o melhor candidato, o mais preparado, o mais qualificado, e a disputa é acirrada. Aquele que mais atende aos requisitos da vaga, seja brasileiro ou estrangeiro, é quem vai conquistar a vaga. Um dia, meu marido comentou comigo que o gerente da empresa que o contratou naquele que foi seu primeiro emprego no Brasil disse a ele, na segunda rodada de entrevista, que ele só contratava quem fosse melhor que ele mesmo. Mas mesmo meu marido se sentindo elogiado e valorizado, é sempre bom lembrar que, via de regra, sempre há alguém melhor que a gente, não somos únicos, não somos insubstituíveis, há uma disputa acirradíssima em tudo.

O difícil mesmo é achar a vaga perfeita para você. Claro que um estrangeiro precisa se adequar e se esforçar mais que um brasileiro por causa dos pontos deficientes, como a questão da língua e da cultura, por exemplo, mas se houver um empenho grande para suprimir esses pontos, com certeza há, também, uma possibilidade bem grande de se competir de igual para igual com brasileiros.

O calcanhar de aquiles de meu marido sempre foi o português, e também alguns conhecimentos técnicos específicos os quais ele não tinha, foi por isso que ele fez cursos de aprimoramento em sua área de trabalho aqui no Brasil, para aumentar suas chances, o que, de fato, aumentou mesmo, conforme já comentei neste post aquiFoi muito bom e percebemos a diferença que fez não só no currículo, mas também em sua desenvoltura em entrevistas. Acho que metade delas só foi possível por causa daquele curso. Gostamos tanto dos efeitos positivos que o curso proporcionou que, poucos meses depois do término do primeiro, ele já fez um segundo. Foi um cursinho de apenas um dia, e não de 3 meses como o primeiro, mas que foi ótimo e trouxe mais chances de entrevistas. O melhor de tudo foi que, nesse segundo curso, seu aproveitamento foi infinitamente melhor do que no primeiro. Apesar de meu marido ter gravado o áudio para poder escutar em casa mais tarde, acabou nem sendo necessário, pois ele compreendeu tudo muito bem, aproveitou o curso, participou ativamente das atividades e eu fiquei super contente de finalmente perceber uma evolução realmente significativa em seu desempenho no português. Foi por causa desse segundo curso que ele quase conseguiu um emprego naquela oportunidade, apesar de que “quase conseguir” não significa muita coisa, mas é um injeção de ânimo e tanto!

Eu já falei aqui sobre a importância de se ter um currículo bem escrito, por mais simples que seja sua experiência. Já falei, também, sobre a importância de se pesquisar sobre as tendências e demandas do mercado, e também aquelas coisas todas que os profissionais de RH valorizam em um currículo. Lembrem-se que estrangeiro permanente no Brasil não goza de processo seletivo diferenciado, é tudo igual, ele é apenas mais um procurando emprego. Eu acho muito certo isso, estrangeiro não é especial. Meu marido concorda também, então está tudo certo.

Um ponto importante é saber mandar currículo por e-mail. Parece besta falar isso, mas são os detalhes que fazem a diferença. A primeira regra é: só mande seu currículo para vagas que tenham, de fato, seu perfil profissional, ou que, pelo menos, seja parcialmente relacionado. Não adianta nada sair atirando para tudo quanto é lado, mandando currículo para vagas que não têm nada a ver com seu perfil, caso contrário seu currículo será descartado. Tenha foco! Se eles pedem pretensão salarial, não coloque “a combinar”, faça exatamente aquilo que eles pedirem. Se não souber quanto pedir, faça uma pesquisa na internet sobre média salarial para a referida profissão ou cargo, há trocentas delas e logo você terá uma ideia de quanto pedir. Se o título da vaga é, por exemplo, ANALISTA ADMINISTRATIVO, é exatamente isso que deverá estar escrito no campo ASSUNTO de seu e-mail, a não ser que eles peçam que encaminhem o e-mail com outro nome de assunto qualquer. Sempre faça o que é solicitado, é muito simples.

O corpo do texto do e-mail é muito importante também. Só depois de muito tempo mandando currículo com um texto ridículo é que eu aprendi a escrever algo que prestasse. Só me atentei a esse fato quando eu e o marido aprendemos a fazer carta de apresentação. Você não precisa escrever uma carta de apresentação no corpo de texto de seu e-mail. Nós chegamos a fazer isso, mas ficou over demais. O ideal é fazer um resuminho bem conciso, de no máximo dois parágrafos curtinhos, descrevendo muito brevemente sua experiência profissional e suas maiores conquistas. Atente-se aos números, eles são muito importante e chamam muita atenção!

No primeiro e-mail com currículo que eu mandei, eu escrevi algo mais ou menos assim: “Boa tarde, segue em anexo currículo relativo à vaga anunciada na edição de domingo do jornal tal. Atenciosamente, Fulano de Tal“. Quando eu olho para isso, tenho um pouco de vergonha de mim. Que imagem eu passei do meu marido nesse primeiro contato? Aos poucos fui melhorando até que cheguei a um texto mais elaborado, ainda que conciso, e mais personalizado, que eu adapto de acordo com a descrição da vaga e da empresa. Eu não menciono nada sobre conhecimento em língua portuguesa no currículo redigido em português para não dar bandeira, logo de cara, de que se trata de estrangeiro, não coloco nem a nacionalidade do meu marido para que ele não seja sumariamente eliminado só por ser estrangeiro. É melhor ocultar essas coisas em um primeiro momento e depois ver no que vai dar, afinal, a ideia é atrair a atenção do recrutador para que ele se interesse pelo perfil profissional somente e marque uma entrevista.

A última dica do dia é, NÃO TENHA PREGUIÇA!!! Procure emprego todos os dias, faça o seu melhor para conseguir mandar, pelo menos, uma dezena de currículos diariamente. Só para vocês terem uma ideia, eu mandava, em média, 150 currículos por mês! É muita coisa e também muito trabalhoso, são horas e horas no computador repassando a lista de sites de empresas e consultorias de recursos humanos, procurando, procurando, procurando. Quando você está quase desistindo e sucumbindo ao desânimo, do nada você recebe uma ligação para entrevista e o ânimo vem com tudo novamente, afinal, se estão ligando é porque há interesse, se há interesse, é lógico que uma hora pode dar certo. Se não estiverem ligando, é hora de fazer uma avaliação:

  • Estou mandando currículos com frequência diária?
  • Meu currículo está bem elaborado?
  • Meus envios estão de acordo com o perfil da vaga?
  • Estou atualizado aos olhos do mercado de trabalho?

Se a resposta for não para alguma delas, então está na hora de rever suas ações. Em nosso caso, tínhamos certeza que o currículo estava legal, pois meu marido sempre ouvia, durante as entrevistas, que seu currículo estava muito bom, e ainda assim eu sempre estava fazendo alterações e correções, até conseguir uma versão que me agradasse por completo. Faço isso até hoje. Também me esforçava, dia após dia, para mandar o máximo de currículos possíveis.

Então, basicamente, esses foram os quatro pilares para conseguir entrevista de emprego:

  • Currículo bem redigido;
  • Envio diário;
  • Estudo de português;
  • Curso de aprimoramento.

Você poderá ler a continuação desse post clicando aqui.

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Como Conseguir Emprego para Estrangeiro no Brasil – Relato de Sucesso

Quando publiquei este post, no ano de 2013, foi com muita alegria e intensa sensação de dever cumprido que compartilhei aqui no blog a notícia de que meu marido estrangeiro fora aprovado em não apenas um, mas em dois processos seletivos aqui no Brasil para vagas de emprego em sua área de formação, exatamente o tipo de emprego que queríamos e que tanto lutamos para conquistar! Pudemos, então, avaliar e escolher a melhor oportunidade para ele. Na verdade, não cheguei a ficar surpresa com a notícia, pois foram incontáveis ligações e entrevistas nos meses que precederam sua contratação. Então eu sentia que seria apenas uma questão de tempo até que tudo se encaixasse perfeitamente e até já estava esperando por isso.

A proposta de contratação das empresas aconteceu exatamente 1 ANO e 10 MESES depois da chegada de meu marido ao Brasil. Apenas para recapitular, começamos a nos organizar para a procura por trabalho para ele três meses depois de sua chegada, mas essa procura começou a andar e funcionar bem mesmo quase um ano depois, quando o português do meu marido já estava bem melhor.

Só para vocês terem uma breve ideia de como foi todo o processo, extraí todas as informações abaixo analisando meu caderninho de anotações, que é onde eu anoto todas as vagas para as quais eu enviei o currículo dele, a data e o nome do site de recursos humanos ou empresa:

– CADASTRO DE CURRÍCULO EM MAIS DE 50 SITES DE EMPRESAS DE RECURSOS HUMANOS;

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– TOTAL DE CURRÍCULOS ENVIADOS – 2.120 CURRÍCULOS (sem contabilizar aqueles que meu marido enviou sem me avisar ou anotar no caderninho);

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– Desses 2.120 currículos, o envio se subdividiu da seguinte maneira:

326 ENVIADOS POR E-MAIL, sendo:

  • 57 currículos enviados diretamente para o departamento de RH das empresas;
  • 269 currículos enviados para vagas específicas, anunciadas em jornais e blogs de divulgação de vagas.

1.794 CURRÍCULOS ENVIADOS DIRETAMENTE EM SITES DE RECURSOS HUMANOS.

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– Dentre os sites de recursos humanos, os mais utilizados e conhecidos nacionalmente foram:

  • CATHO – 533 VAGAS;
  • VAGAS.COM – 222 VAGAS;
  • INFOJOBS – 191 VAGAS;

Recebemos ligações de currículos selecionados em todos eles.

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– TOTAL DE VAGAS EM QUE O CURRÍCULO FOI SELECIONADO E QUE LIGARAM PARA O MARIDO:

40 VAGAS

Média de uma ligação/contato para cada 53 currículos enviados.

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– DESTAS 40:

  • 14 vagas foram de contato por telefone e que não evoluíram para entrevista pessoalmente;
  • 24 vagas resultaram em entrevistas pessoalmente;
  • 2 vagas fomos convocados para dinâmicas em grupo.

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– DAS 24 ENTREVISTAS QUE MEU MARIDO DEU PESSOALMENTE:

  • 9 delas foram entrevistas em agências de Recursos Humanos, sem ser selecionado para uma segunda rodada de entrevista na empresa contratante;
  • 3 delas tiveram uma primeira rodada em agências de recursos humanos e segunda rodada nas empresas contratantes;
  • 12 das entrevistas foram diretamente nas empresas, sem que houvesse nenhuma empresa de recursos humanos intermediando.

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E por fim, das 12 entrevistas feitas diretamente nas empresas, meu marido conseguiu DUAS PROPOSTAS de trabalho formais.

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Como vocês puderam perceber, nossa conquista foi fruto de muito esforço e trabalho ao longo de quase dois anos. 

A primeira empresa que deu uma oportunidade para meu marido no Brasil anunciou algumas vagas de emprego nos classificados de um jornal local de grande circulação e também no site da Catho. Mandei o currículo do marido para algumas delas tanto pela Catho como por e-mail, inclusive a vaga para a qual ele foi contratado.

Não sei exatamente qual foi o meio utilizado pela recrutadora para selecionar o currículo dele, se pela Catho ou por e-mail, o que eu sei é que praticamente um mês depois do envio do currículo, ela enviou um e-mail comunicando que ele fora selecionado para participar do processo seletivo para uma das vagas. Na mesma mensagem, pediu para que ele preenchesse uma ficha de inscrição e também que enviasse um currículo atualizado, juntamente com um e-mail confirmando participação no processo seletivo.

Enviamos a resposta prontamente com tudo o que ela havia solicitado. Já no dia seguinte, ela enviou uma nova mensagem explicando como seriam as próximas etapas do processo seletivo, que consistiram de provas online, entrevista individual com a gerente de recursos humanos e supervisores, e entrevista final com o gerente geral da empresa. Na mesma mensagem, ela já passou os links que direcionavam à página das provas online.

Quando viu o link para as provas – uma de inglês e outra de raciocínio lógico/matemática – meu marido cogitou esperar um dia, pelo menos, para poder se preparar, em especial porque era uma prova cronometrada. Mas, de repente, ele decidiu fazer a prova logo de uma vez para se livrar dela o mais rápido possível. O problema é que a prova estava super difícil, até mesmo a de inglês. Eram textos enormes, com um vocabulário bem complexo e com questões puramente de interpretação de texto e apenas uma ou outra questão cobrando gramática. Com certeza quem tinha um inglês bem mais ou menos, ou mesmo intermediário, deve ter tido bastante dificuldade. Para piorar, a prova de raciocínio lógico estava ainda mais difícil. Ele tentou dar o seu melhor solucionando as questões, mas estava tão complicado, que foi necessário chutar algumas das respostas. Ele terminou o teste com aquela sensação de “me ferrei” e nos resignamos pensando que aquela oportunidade estava perdida.

Mas como a vida é cheia de surpresas, um dia e meio depois a recrutadora mandou um e-mail parabenizando-o por ter sido aprovado nos testes e comunicando que ele passara para a próxima fase – entrevista individual – já com hora marcada e tudo. Ficamos perplexos, pois por essa não esperávamos.

A entrevista seria poucos dias depois e ele não se preparou tanto quanto deveria, mas estava tranquilo e confiante, afinal, depois de tantas entrevistas, ele achou que não era tão necessário se preparar exaustivamente, apenas leu sobre a história da empresa, missão, valores e coisas assim. Depois da entrevista, ele me contou que fora entrevistado por três pessoas simultaneamente e que, apesar da pressão de ter mais de uma pessoa entrevistando, ele estava muito satisfeito e animado com seu desempenho. A recrutadora o informou que se ele fosse aprovado naquela etapa, ela ligaria para marcar a entrevista final. E não é que ao fim daquele mesmo dia ela ligou? Ficamos super empolgados, pois até aquele momento nunca acontecera de um processo seletivo avançar tão rápido e tão bem, e a entrevista final seria já no dia seguinte!

Quem o entrevistou na etapa seguinte foi o gerente da planta, o que acabou deixando meu marido um pouco tenso e nervoso. Talvez por isso ele não tenha ficado nada satisfeito com seu próprio desempenho e achou que era o fim para ele. Depois dessa segunda rodada, não houve nenhum retorno da empresa por quase três semanas, então para controlar um pouco a ansiedade ou acabar de vez com a expectativa, resolvemos enviar um e-mail para a RH perguntando qual era o status do processo. Ela levou cinco dias para responder e quando respondeu foi com uma pergunta ao invés de uma resposta. Ela queria saber se ele era cadastrado ou não no conselho regional de sua categoria e também queria saber se o seu diploma de graduação era ou não reconhecido no Brasil.

Apesar da resposta sem resposta, concluímos que havia uma resposta implícita, pois se ele não houvesse sido aprovado, ela simplesmente diria que o processo seletivo havia sido encerrado, sem maiores rodeios. A partir desse momento, a ansiedade começou a aumentar.

Respondemos à mensagem com todo o cuidado para que ela pudesse compreender tudo perfeitamente. Explicamos detalhadamente sobre seu diploma de graduação no exterior, dizendo a ela que o mesmo possuía selos de autenticidade da Embaixada do Brasil no país de origem dele que o reconhecia como legal. Também mencionamos que tínhamos a tradução juramentada do diploma do inglês para o português e explicamos que ele ainda não havia sido revalidado em uma universidade pública no Brasil.

Sobre o registro no respectivo conselho de classe profissional, contamos que ele ainda não tinha pelo fato de seu diploma não ter sido revalidado, mas explicamos que, se o registro no conselho não fosse necessário para a vaga, então ele estaria totalmente apto a exercer a atividade, mesmo sem diploma revalidado, uma vez que não há nenhum impedimento legal quanto a isso. Aproveitamos para reafirmar que ele possuía todos os documentos legais – RNE, CPF e Carteira de Trabalho – todos em situação regular e que ele poderia trabalhar livremente, como outro brasileiro qualquer, desde que o registro no conselho de classe profissional não fosse necessário.

Dez dias depois, ela nos mandou uma mensagem pedindo que enviássemos todos os documentos que tivéssemos, digitalizados, pois eles seriam encaminhados para análise. Foi então que eu comecei acreditar fortemente que havia chances reais de contratação.

Quase três semanas depois, uma outra empresa ofertou trabalho a meu marido e por isso resolvemos ligar para a responsável pelo RH pedindo uma posição, pois meu marido não estava em situação de perder oportunidades. Explicamos sobre a proposta feita e finalmente soubemos que ele fora mesmo aprovado e que eles já dariam início ao processo de contratação do primeiro estrangeiro da história da empresa em minha cidade, pelo menos foi isso que a moça do RH nos contou.

Tudo isso demorou quase dois meses, do primeiro contato por e-mail à última ligação, quando a vaga foi confirmada. Ao longo do processo, praticamente todo o contato foi feito por e-mail, a RH nos ligou apenas uma única vez para confirmar o dia e o horário da entrevista.

Depois de tudo, só consigo pensar e reforçar a minha ideia de que, para conseguir emprego, seja o candidato brasileiro ou estrangeiro, tudo deve casar perfeitamente, do início ao fim, tanto em termos de atendimento pleno dos requisitos da vaga, como ser bem desenvolto ao se comunicar (especialmente em português). Obviamente, o candidato deve possuir, também, capacidade técnica e experiência, além de cativar as pessoas durante todo o processo seletivo, pois simpatia e conexão com o recrutador também contam muito. É muito tentador esperar conseguir emprego por indicação, aliás todo mundo fala que por indicação é infinitamente mais fácil, mas depois de tudo que passamos, eu não concordo, acho mesmo que, se a pessoa estiver cem porcento comprometida e trabalhando para isso incansavelmente, cedo ou tarde terá sucesso. Sem falar que a sensação de se conseguir por méritos próprios é indescritível, sem comparação. Em nosso caso, o resultado foi até mesmo melhor do que o esperado, meu marido conseguiu um cargo de chefia, em uma multinacional, não com o salário mais fantástico do mundo para a categoria, mas que certamente superou nossas expectativas.

O fato é, nós conseguimos, muitos outros conseguiram também, e não há dúvidas que você também pode conseguir, mas é preciso um único passo, que é trabalhar muito para isso, sem desanimar, sem diminuir o ritmo e jamais ficar esperando a ajuda das pessoas, pois isso só atrapalha, definitivamente não ajuda em nada, pelo menos essa é minha opinião pessoal.

No momento, meu marido já está em seu terceiro emprego no Brasil. Dois anos e meio depois de ser contratado por essa empresa, naquele que foi seu primeiro emprego no Brasil, a planta encerrou suas atividades em nossa cidade e foi para outra. Meu marido acabou sendo mandado embora e ficou 6 meses desempregado. Contei tudo isso no post “Desemprego de Estrangeiro no Brasil – I“. Conseguimos, então, outro emprego seguindo o mesmo método de procura que relatei em diversos posts aqui no blog. Entretanto, por problemas de adaptação à cultura da empresa e também com a chefia, ele foi mandado embora mais ou menos 9 meses depois, no auge da crise de desemprego aqui no Brasil. Ainda não contei esse causo aqui no blog, mas contarei em breve. Mas só para adiantar, deu tudo certo de novo no fim, o que me faz acreditar fortemente que nosso método de procura por emprego é realmente eficiente.

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Testes para Estrangeiros em Processos Seletivos no Brasil

Um dia, meu marido leu em um artigo na internet que a cada 100 empresas, 89 delas se utilizam de algum tipo de teste na hora de recrutar. Isso foi algo que constatamos na prática, quando ainda estávamos nos familiarizando com os processos seletivos no Brasil. Acho que ele já fez todos os testes possíveis e imagináveis desde então, sem brincadeira.

O primeiro teste que fizemos (sim, eu e ele) foi online para uma vaga de trainee (já comentei sobre isso aqui), que contava com provas de português, inglês e conhecimentos gerais. Respondi, por motivos óbvios, as provas de português e conhecimentos gerais, que eram em português, e a prova de inglês fizemos juntos.

Depois desse primeiro, começaram a aparecer vários outros testes de inglês e raciocínio lógico, também online, em especial para vagas de emprego anunciadas no site Vagas.com. Nesse caso, só de clicar no ícone “candidatar-se”, automaticamente abria uma “janelinha” para a resolução do teste online e somente depois de resolver o teste é que aparecia o ícone para “confirmar candidatura”. Os testes online nesse site de procura de emprego são todos cronometrados. A prova de inglês geralmente é aplicada em vagas que exigem inglês de avançado a fluente, e a prova de raciocínio lógico em geral é aplicada para vagas técnicas, em especial na área de exatas. Antigamente, esses testes se repetiam, e era necessário resolvê-lo toda vez que se aplicava para diferentes vagas que o requeriam. Houve um mesmo teste de inglês que resolvemos pelo menos umas três vezes, igualzinho. Hoje em dia, os testes de inglês e raciocínio lógico são resolvidos apenas uma vez e têm validade de seis meses. Apesar de mais prático, prefiro o sistema anterior, que permitia melhorar o desempenho a cada resolução.

Para resolver o teste de raciocínio lógico, meu marido copiava e colava os enunciados no Google Tradutor para agilizar, uma vez que são testes cronometrados. No começo, ele copiava porque não entendia quase nada mesmo. Com o passar do tempo, quando começou a entender, continuou no ctrl C – ctrl V para poder resolver o exercício mais rapidamente, já que o tempo é bem limitado para a resolução.

O primeiro teste em folha de papel que ele teve de resolver pessoalmente, durante uma entrevista, era um teste de raciocínio lógico e de conhecimentos técnicos específicos. Na segunda parte do teste ele não foi bem, porque seu conhecimento sobre o assunto era meio fraco, mas a parte de raciocínio lógico ele tirou de letra. Coincidentemente, depois desse primeiro teste presencial muitos outros vieram, por isso o trabalho de procurar emprego acabou ficando dobrado, pois além de se preparar para a entrevista em si, ele ainda tinha que se preparar para os testes. Ele precisou, então, estudar cálculos e resolver listas de exercícios por horas. Bem dizem que procurar emprego é o próprio emprego da pessoa, só que sem remuneração, porque há muito a se fazer, consome boa parte de seu dia e você fica cansado como se estivesse saindo para trabalhar.

Desde que chegou ao Brasil, ele já fez tudo um pouco durante os processos seletivos, incluindo testes psicológicos, redações do tipo “fale-me sobre você” em português e inglês, ou então “descreva suas experiências profissionais”, além de muito preenchimento de formulário à mão, mesmo que o recrutador tenha uma cópia do currículo em mãos. Acho que de todos os testes que ele já fez, só faltou mesmo teste de urina, de fezes e de resistência física rs…

O mais longo e extenuante teste que ele fez presencialmente durou quatro longas horas e incluiu teste de raciocínio lógico, matemática básica, português, além de dois testes aplicados no computador usando o Word e o Excel. Esses testes no computador e o teste de português nos pegaram de surpresa naquela ocasião. Primeiro o de português que, por incrível que pareça, foi a primeira vez que ele teve que resolver durante um processo seletivo. Até então eram apenas testes online de inglês. Os testes no Word e no Excel também foram novidade, se eu fosse a candidata, já teria dançado bonito no Excel, pois só sei fazer planilha podre, pior do que básica. Além de todos esses testes, ele também teve de preencher um formulário, falar um pouco sobre ele e no dia seguinte, depois da entrevista com o recrutador, ele precisou que resolver um teste psicológico, daqueles de ficar desenhando palitinhos em uma folha branca.

A grande questão é, se o português do sujeito for ruim (já falei um pouco sobre isso aqui e aqui), como é que vai poder participar de variados processos seletivos? Não sei quanto às empresas pequenas, mas há uma grande possibilidade de as grandes, ou as melhores, aplicarem algum teste de seleção. Então, não tem jeito, com um português ruim, as chances diminuem mesmo. Por isso bato sempre, sempre, sempre na mesmíssima tecla, façam seu companheiro estudar português e tudo o mais que seja necessário, é o único jeito de se dar realmente bem por aqui, não tem jeito, não tem segredo, não tem nada, é isso aí e fim de papo. Uma pessoa sem português é praticamente um ninguém, a não ser que se tenha muito contato para fazer e acontecer, mas partindo da premissa que não se tem, aí é com vocês. Como nós não temos, sempre nos descabelamos para fazer as coisas acontecerem do jeito tradicional mesmo. O jeito é trabalhar, estudar e continuar tentando, sempre melhorando, até que se chegue à perfeição, o resultado positivo será consequência.

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Estrangeiros Lidando com a Frustração no Brasil

Antes de meu marido e eu nos estabelecermos em definitivo no Brasil, não vou dizer que vivíamos em uma bolha de perfeição, até porque enfrentamos alguns contratempos. Entretanto, estávamos envolvidos por uma atmosfera em que tudo, coincidentemente ou não, estava se encaixando perfeitamente. Tudo o que planejamos aconteceu de acordo com o esperado e deu tão certo que era até mesmo difícil de acreditar. Mas foi só meu marido pisar no Brasil que as coisas começaram a desandar. O ritmo ao qual estávamos acostumados, com tudo dando certo, não perdurou e as coisas deixaram de sair conforme o planejado.

Tínhamos essa sensação porque as questões burocráticas, como casar e tirar visto, por exemplo, passam a falsa sensação de controle. A equação, nesses casos, é muito simples, dê exatamente aquilo que é requerido e obtenha exatamente aquilo que é esperado, não tem segredo, basta seguir o passo a passo.

E daí que a parte de documentação é mesmo uma receita de bolo. Preencheu os requisitos? Ótimo, fim de papo, não tem muito o que pensar, adaptar ou improvisar. E quanto ao resto? O resto é receita a olho, aquela em que você vai combinando os ingredientes até achar o ponto certo. Às vezes vocês acerta, outras erra, mas a cada erro vai adaptando e improvisando para que tudo dê certo no fim, mesmo que o resultado não seja lá muito satisfatório. Assim é a adaptação de um estrangeiro no Brasil.

Não sou uma pessoa que se frustra facilmente. Claro que fico chateada e cansada mentalmente com situações pontuais, sim, mas tenho consciência de que certas coisas se desenvolvem em um processo lento até que tudo se estabilize. Já o marido não. Na cabeça dele, estaríamos navegando em águas calmas e cristalinas em uns seis meses, máximo um ano. Não sei o exato motivo porque ele fixou isso em sua cabeça, mas ele dizia que eu nunca o alertei de que seria tão demorado. Isso me chateou um pouco, porque eu disse isso a ele inúmeras vezes, tanto é assim que, mesmo quando eu morava com ele no exterior, sempre peguei no pé dele para que começasse a estudar português de verdade.

Uma pergunta que meu marido sempre me fazia era: quanto tempo para arranjar um emprego? Difícil responder. Então de tempos em tempos ele tinha alguns ataques por causa da frustração que tomava conta , era um trabalhão imenso exorcizá-lo. Ele pensou em desistir, quis ir embora, ficou deprimido, não quis falar, não quis comer, brigamos, quase nos estapeamos, já passamos por todas essas fases e não tenho vergonha nenhuma em admitir isso, pois são fases que, infelizmente, têm uma grande chance de acontecer. O bom é que, se você passar por todas elas, com certeza sairá mais fortalecido e mais realista em relação aos fatos, mas é duro, não é fácil velejar em mares revoltos, ainda que simplesmente façam parte.

O que faz a diferença é sua postura em relação a isso. Se eu fosse uma frustrada, chiliquenta, pavio curto, impaciente e incompreensiva, eu diria que meu casamento já teria ido para o espaço há muito tempo. Apesar de eu não gostar quando meu marido passava por uma grave crise de frustração – ficava triste mesmo – eu tentava compreender, pois acho mesmo que é justificável. Um estrangeiro, tentando se adaptar, procurando emprego e não achando, com dificuldade com a comida, lutando com o idioma, longe da família e amigos e que ainda não fez nenhuma amizade sólida, é a fórmula da bomba atômica pronta.

Muitas vezes, enquanto ele estava com mil dúvidas e frustrações, eu também começava a me questionar e pensar “o que estamos fazendo aqui?”, mas, como sempre, eram questionamentos passageiros, como uma nuvem que passa mais rápido do que chega. A questão é simples, eu sou brasileira, em meu próprio território, em zona conhecida, se não eu, quem irá segurar as pontas? Ninguém. O jeito é se recompor e seguir firme, contornando as situações com serenidade. É o que eu tentei fazer todo esse tempo. Acho que deu certo, apesar do pesares.

Termino esse texto com uma frase que li no Facebook dia desses: “Não é o mais forte que sobrevive, nem é o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças“. Se este post foi útil e esclarecedor, deixe seu comentário, curta e compartilhe! Obrigada!

Telefone Maldito – o Inimigo Número Um do Estrangeiro com Português Ruim

Vocês devem lembrar que eu comentei que, no começo da procura por emprego para meu marido estrangeiro aqui no Brasil, quem tinha que atender às ligações para ele era eu, pois eu tinha que explicar que ele tinha dificuldade de compreensão ao telefone. Isso era mentira, pois a verdade é que ele nem sabia falar português direito naquela época, ele apenas elaborava frases soltas que, juntas, não faziam muito sentido. Então inventei essa história de dificuldade ao telefone para não pegar tão mal e para que o marido não fosse sumariamente eliminado dos processos seletivos. É, fui muito desavergonhada.

Era óbvio que daquele jeito não daria para continuar, porque definitivamente não era comigo que o recrutador queria papo. Lógico que eu era bem séria ao telefone, quase como se fosse comigo, mas não dá, né? Era só para quebrar um galho temporariamente. Além do mais, eu me sentia super mal e incomodada com aquela situação, afinal, se o marido não conseguia nem falar ao telefone, como é que seria capaz de trabalhar?

Depois de algum tempo, quando ele já estava avançando um pouco mais em seus estudos, conversei com ele e expliquei que não dava mais, dali em diante ele teria que começar a enfrentar as ligações, porque ninguém quer papo com esposa de candidato gringo, em especial esposa que fica contando histórias da carochinha para despistar.

Depois dessa conversa, a primeira ligação que ele atendeu foi um fiasco, é claro. No primeiro segundo de desespero, ele logo jogou o telefone para mim, nem ao menos falou para a pessoa do outro lado da linha um “espere um minuto”. Ele simplesmente deixou a mulher falando sozinha e me deu o telefone, mas eu insisti para que ele tentasse, e ele simplesmente não quis tentar e passou o telefone para mim novamente. Nesse meio tempo a mulher lá, falando sabe deus o quê. Aí, com muito ódio no coração, peguei o telefone e falei com a mulher, mas a merda já estava feita, àquela altura ela já tinha percebido que ele não tinha ao menos a mínima capacidade de falar ao telefone.

Uma coisa tão simples para nós, não é mesmo? Mas não, é complicado mesmo, é a prova de fogo de seu nível de compreensão em qualquer idioma e costuma ser o último item que dominamos no aprendizado de outra língua. Podemos falar, escrever, ler, mas se ficarmos frente a frente com um falante nativo, seja ao telefone, seja pessoalmente, é que vamos conferir a real situação da coisa.

Nem lembro mais como foi que a ligação acabou, o que a mulher disse por fim, nada, só lembro de meu marido insistindo em me passar o telefone e a mulher falando sozinha. O que eu sei é que era para uma vaga bem interessante, de uma empresa multinacional iniciando suas atividades no Brasil e fazendo as primeiras contratações. Suspeito que foi a recrutadora da própria empresa quem ligou diretamente, sem intermediários, porque depois disso, uma sucessão de fatos curiosos se desencadeou e o marido acabou recebendo seis ligações de diferentes empresas de recursos humanos recrutando para a mesma vaga.

Depois dessa conversa fiasquenta ao telefone, o marido começou a ficar preocupado, porque seu português estava mesmo melhorando, mas ele tinha uma imensa dificuldade de compreensão ao telefone. O que fazer? Começamos a pensar em soluções, pois não poderíamos mais desperdiçar oportunidades, as quais já eram naturalmente escassas para ele naquela ocasião. Então pensei na coisa mais óbvia, eu teria que escutar toda a conversa para, em caso de necessidade, acudi-lo. Pois é, olha a que ponto se chega para salvar um marido gringo do fracasso total ao telefone!

Inicialmente, as empresas costumavam ligar em nosso telefone fixo que, embora sem fio, não possuía o recurso viva voz, então eu ficava escutando a conversa dele bem quietinha, com meu ouvido colado ao aparelho e, caso fosse necessário, eu falava ao seu ouvido o que ele deveria responder. Algumas vezes foi complicado administrar a situação para não deixar a pessoa do outro lado perceber que tinha alguém ajudando, mas em geral deu certo. Também logo percebemos que o pessoal do RH segue um script ao telefone bem manjado, pouco se diferenciando uma ligação da outra, e justamente por causa deste script previsível ele foi ganhando confiança e experiência também.

Cheguei a conversar algumas vezes em português com meu marido ao telefone na fase em que ele ainda estava tentando superar a sua limitação. Foi engraçado, tipo último recurso dos desesperados, mas não deu muito certo, pois ele conhece bem minha voz, minha entonação, então não adiantaria muita coisa, ele teria que aprender na prática mesmo falando com estranhos.

A maioria das ligações foi feita para o celular, o que permitia o uso do viva voz, então quase sempre deu tudo certo. Enquanto ele conversava, eu ía anotando todas as informações, como endereço, telefone, nome do entrevistador, hora da entrevista, tudo certinho e o acudia caso fosse necessário, isso sem que a pessoa do outro lado ao menos desconfiasse. Com o tempo, descobrimos uma tática interessante, eu mesma atendia o celular, aí eles pediam para falar com o marido, eu dizia que ele não estava, mas que ele retornaria a ligação em quinze minutos. Então já emendava perguntando o nome da pessoa que estava ligando, o nome da empresa, da vaga, o que, em geral, eles costumam falar, às vezes até mesmo sem perguntar. Nesses quinze minutos em que ele teoricamente estava fora, podíamos relembrar os detalhes mais importantes, do tipo quando aplicamos para a vaga, a sua descrição e o que mais fosse necessário. Fazíamos isso porque a maioria das vagas eram aplicadas por mim e eu obviamente não fazia um relatório descritivo delas para meu marido, apenas anotava em meu caderninho de vagas o nome da empresa ou consultoria de RH, nome da vaga e o dia em que enviei o currículo. E como eu tenho boa memória, costumo lembrar facilmente do que se trata. Então o marido só precisava abrir a página da internet onde a vaga foi aplicada, ler a descrição, às vezes ler um pouquinho sobre a empresa para saber o que eles fabricavam. Somente depois de fazer isso, ele finalmente retornava a ligação, com calma e segurança. Essa tática dá muito certo e a conversa rende e se desenrola muito bem, ele conseguiu agendar várias entrevistas assim.

Um ponto negativo de ele falar ao telefone usando o recurso do viva voz comigo ao lado dando um auxílio que observei, foi que quando a pessoa do outro lado fazia uma pergunta mais crítica, ele ficava fazendo sinal para mim para que eu falasse o que ele deveria responder. Entendo e acho natural que ele quisesse uma luz, mas eu não gostava disso, pois eu poderia acabar atrapalhando o ritmo da conversa. Aconteceu isso certa vez. Ele perdeu uma oportunidade de entrevista porque hesitou ao telefone (e era uma ligação no fixo, não no celular). Ele se embananou na resposta enquanto eu e ele conversávamos por sinais e enquanto isso a mulher desligou o telefone na cara dele. Ela não ouviu nossa conversa, nem viu nossa mímica, mas a falta de um diálogo firme e objetivo por parte dele fez com que ela simplesmente desligasse o telefone. Acho que a culpa foi minha, ele acha que a culpa foi dele, mas a culpa foi mesmo nossa. Ele não precisava mais daquilo, ele já tinha chegado a um ponto em que estava completamente apto a manter uma conversação sozinho ao telefone, já entendia tudo, respondia corretamente, tudo certinho, mas tenho a impressão de que ele ficou com um leve trauma daqueles tempos em que ele não entendia nada ao telefone e era mesmo preciso que eu o auxiliasse durante as ligações. Hoje em dia, ele prefere que eu o deixe sozinho para falar ao telefone quando recebe ligação para entrevistas. Como as coisas mudam, não?

Felizmente, apenas em três ligações as analistas desligaram o telefone na cara dele, o que achei uma tremenda falta de profissionalismo e de educação também. Mas ainda bem que há muita gente querida e solícita, que ajuda, fala devagar se preciso, repete quando necessário e até mesmo falam em inglês se souberem, tudo para que ele entenda perfeitamente, sem perder uma vírgula da conversa. Os brasileiros são gentis, sim, com os estrangeiros durante os processos seletivos, também são curiosos e jamais os tratam com desrespeito.

Depois de algumas experiências ruins ao telefone, eu resolvi eliminar, por fim, o nosso número fixo do currículo dele e deixei apenas o número do celular para facilitar as coisas.

Por que estou falando tudo isso sobre telefone e as situações que o envolvem? Depois do envio do currículo, falar ao telefone é etapa inicial e fundamental na maioria dos processos seletivos. A pessoa do outro lado vai descobrir imediatamente que é um estrangeiro ao telefone e é nesse momento em que ela decidirá se deve levar a conversa adiante ou não, chamar ou não para uma entrevista, mesmo sendo estrangeiro. Por se tratar de um momento decisivo, tudo depende de seu desempenho, confiança e firmeza ao responder as perguntas. Uma conversa que flui adequadamente vai resultar em uma entrevista, mas ao primeiro deslize, pode-se colocar tudo a perder e estrangeiro procurando emprego no Brasil não pode se dar ao luxo de cometer erros, seu aproveitamento tem que ser alto e por este motivo nem os detalhes devem passar despercebidos, tudo para aumentar suas chances no mercado.

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